A plantação de trigo

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Iniciei minha plantação de trigo após pensar nela muitas vezes. Antevi a gleba de minhas terras com colheitas abundantes. Enxerguei o amarelado dos cachos balançando sob o vento a centenas de léguas de distância.
Consegui vislumbrar inúmeras toneladas sendo transportadas por enormes caminhões. Pude sentir as emoções embalarem minha alma diante de tais visões.
Aconteceu que as visões me motivaram e me pus a trabalhar no preparo da terra. Tive de arredar pedras, tocos e eliminar cupins. Adubei-a e lancei as sementes com confiança.
Todos os dias eu passava entre as covas para ver se já havia algum broto. Para minha alegria, começaram a se mostrar. Foi gigante o meu contentamento.
Ao iniciar minha obra, amigos e conhecidos profetizaram o caos. Diziam que a terra não era apropriada. Que a estação chuvosa demoraria a vir e que ventos tempestuosos ameaçariam a região.
Fiquei abalado. Pensei em desistir. Era minha inaugural 'façanha' e eu não queria passar por constrangimento 'social'. Cheguei a perder o sono e o apetite por alguns dias.
Resoluto, não temendo correr riscos, arregacei as mangas e me pus a cortejar meus sonhos. Carpi, limpei o solo; o ronco das máquinas foi ouvido.
Minha expectativa estava em seu ponto mais alto. As mãos esfriavam. O cérebro não tinha descanso. Quando, porém, vi os brotinhos aparecerem gritei de contentamento; mas ainda não era o trigo pronto. Era a promessa.
Alguém soltou touros em meio às minhas plantas. Outro enviou pássaros famintos. A inveja criou meios de me deter já em estágio adiantado de minha safra prometida. Foi prova sobre prova; parecia que eu estava perdendo a fé.
As minhas visões se cumpriram. O suor derramado foi galardoado. Os calos das mãos, devidamente agraciados com feixes de trigos de qualidade sendo colhidos. Ali estava a recompensa da fé, do trabalho. Os depósitos foram abarrotados.
O trigo não nasce por acaso. Os pães que alimentam milhões provêm dele. É obra de valor. Merece cuidados especiais.
Toda pessoa planta alguma semente. A escolha se faz necessária. A 'terra' dos corações não deve abrigar ervas daninhas, mas 'plantas' de boa qualidade. Ainda que seja preciso 'arrancar tocos e pedras', compensa o sacrifício.
Os 'touros' e 'pássaros' malignos devem ser dispensados. A inveja nem merece atenção. Os ocupados com obras grandiosas devem manter o foco e marchar resolutos.
A colheita virá!

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